Pessoas com pernas de árvores abertas para deixar passar os fios de luz - Teresa
A mãe de Dayane e esposa do César.
Antes de continuar, recomendo ler as duas entregas anteriores Dayane e César
Em 2016 recebi, aqui em São Paulo, a visita de Dayane, sobrinha do meu pai. Aquele encontro, que no começo pressagiava momentos de silêncios incômodos, na verdade, foi uma espécie de revelação sobre uma face ignorada da minha família.
Soube da vida de César, pai de Dayane, irmão mais novo do meu pai. Na época que morava em Bogotá, César era nome proibido de conversar em casa. Ele fora banido e evitado ao longo dos anos que estive lá e, com o passar do tempo, sua não existência virou fato dentro da minha cabeça.
Na véspera de seu retorno, perguntei para Dayane sobre sua mãe. Ela já tinha me contado sobre como se conheceram com César -num forró no Rio-, porém era só isso que sabia dela: que gostava de forró e sua cantora favorita era Dayane, aliás daí veio o nome da sobrinha do meu pai.
Ah! Minha mãe é esperta e muito observadora, riu Dayane enquanto pegava uma foto dela na bolsa, essa foto é de alguns anos atrás, ela nasceu em 1946. Tirando o cabelo alisado de Teresa -o de Dayane é ondulado-, não há como negar a semelhança entre mãe e filha, as duas muito parecidas, morenas queimadas do sal e do sol de Fortaleza.
Teresa, a diferença da maioria das pessoas, nunca foi muito apegada a sua família, a sua terra e costumes. Quer dizer, não é que ela não gostava dos seus pais, irmãos ou da comida, nada disso. Ao contrário, segundo ela, a sua relação com as pessoas e o ambiente ao seu redor era tão, mas tão próximo que sentia que tudo aquilo era de fato parte dela, inclusive até fisicamente. Ela jurava que levava todo mundo dentro de si: família e amigos na barriga, costumes carregados nas costas, os pontos favoritos da cidade pendurados nos braços. Dizia que era tanto o cuscuz, carne de vento e rapadura que havia comido, que sua pele, cílios e unhas eram feitas desses alimentos. O mesmo acontecia com as praias, praças e lugares que frequentava na cidade, tudo aquilo era ela, e por causa disso sabia que em momento algum sentiria falta de Fortaleza e tudo o que nela havia.
No entanto, tinha uma coisa que a Teresa encantava, e ao mesmo tempo nunca conseguia incorporar: o forró. Ela não podia entender como aquela música exercia tamanho fascínio e ao mesmo tempo se sentia extremamente separada dela, como se um muro invisível se levantasse entre ela e o som. Quando escutou pela primeira vez, numa rua perto de casa, ficou paralisada prestando atenção: as batidas da zabumba a empurravam num ir e vir igual às ondas do mar, o canto da sanfona a fazia girar. A melodia subia, e seu imaginário se esvaecia no doce balanço do triângulo. Presa nesse êxtase musical, Teresa experimentou um mundo desconhecido, reparou que a música erguia os pelos pequeninos e loiros das suas costas e seus antebraços, logo depois, uma trilha de estrelas apimentadas cutucava cada um dos poros das plantas de seus pés. A música a envolvia, e a cada expiração Teresa sentia uma perda gradativa de peso, como se pernas, mãos, tronco, membros e órgãos fossem se desprendendo em movimentos simples e curtos, como tirando as tampas de um jogo de panelas; a cadência da música trepava desintegrando-a por dentro, escalando entre as costas e seu peito. Uma névoa colonizava seu cérebro, para depois afogá-lo vagarosamente em calda de caramelo, o pensamento se esquecia de pensar e aos poucos o único que sobrou de Teresa foi o forró que se apoderou dela.
Sem aviso prévio, a música foi interrompida pelo locutor da rádio. Teresa voltou abruptamente ao mundo numa reincorporação vazia de abandono, abriu os olhos, se percebeu no meio da calçada e se sentiu nua, incapaz e vulnerável; até estranhou o local vizinho que por anos havia transitado. Desorientada. Como se fosse sua primeira vez ali.
Nesse instante, brotou nela o gosto-fardo pelo forró: uma sede incessante que mais se secava na medida que mais bebia dele.
Daí em diante, o relacionamento dela com forró foi se tornando constante. Em breve foi testemunha do curioso paradoxo que essa convivência trazia: quanto mais escutava e mais atenção prestava na música, ia descobrindo sons longínquos previamente ignorados, as letras revelavam novas interpretações, decorava elas, ensaiava novas danças, cantava; porém, na mesma direção do seu mergulho no forró, ele ia se tornando maior e extenso. Mais misterioso e profundo. E ela continuava a se embrenhar nele, com saudades eternas. Saudade dele quando não dava para ouvir, saudade de dançar quando tocava em lugares onde ia andando, saudade de dançar com alguém quando rodopiava sozinha trancada no quarto, saudade de tudo que pressentia que ainda poderia sentir quando se fundia no balanço caloroso entre ela e um corpo de homem em algum show ou pista da cidade.
Não foi difícil perceber, diferente do que era com a família e amigos, com seus costumes, comidas e seus lugares, o forró nunca estaria dentro dela, nunca seria ela.
Foi nessa corrida atrás dos xotes, xaxados e baiões onde Teresa conheceu a cantora Dayane. Encontro fulminante para a moça, pois até aquele momento nunca vira uma mulher cantando forró, e além disso, Dayane jorrava um talento assustador. Voz fina e afinada, somado ao sotaque popular e familiar que o estilo demanda. Uma mistura rara de se ouvir. Aquilo bastou para fazer do encantamento da Teresa pelo forró ainda maior. Ia em quase todos os shows de Dayane, guardava uma parte da mesada semanal que recebia do pai para poder comprar os ingressos. Chegava inclusive a ter comportamentos obsessivos. Várias vezes disse para os pais que ia dormir em casa de alguma amiga, só para assistir novamente num show da cantora, isso geralmente acontecia no terceiro final de semana consecutivo de ver a Dayane. Ciente de sua paixão doentia, decidia disfarçar um pouco a intensidade, mas sempre dava um jeito de ir.
Nesses shows ela acabou conhecendo outras pessoas com seu mesmo quadro clínico: enceguecimento e procura crônica pelo forró. Juntaram-se e formaram o fã clube de Dayane. Assim, seguindo à cantora por todo o estado e quando dava por turnês mais afastadas, Teresa foi abrindo novas fronteiras . Nas viagens mornas pelas estradas, via a mudança das paisagens pela janela do ônibus, como a terra ficava mais marrom e seca no interior, percebia a mudança no som das palavras na boca das pessoas, as comidas eram parecidas porém feitas de outro jeito. Teve uma viagem pro Rio em dezembro de 1970, nessa Teresa pôde ir, havia economizado o ano todo e a galera do fã clube também tinha planejado com antecedência, conseguindo reunir umas 30 pessoas para a viagem.
Foi lá, no último show de Dayane no Rio, onde Teresa conheceu César, o gringo esquisito que tinha vindo ao Brasil para jogar futebol. De cara Teresa achou o homem estranho. Ficou reparando um tempão enquanto ele andava perdido ao redor da pista. O jeito de caminhar já entregava sua origem alheia, quando a chamou para dançar, ela nem entendeu direito o que ele disse. É óbvio que Teresa já tinha visto gringos, lá em Fortaleza apareciam aos montes pelas praias e zonas turisticas, o estranho foi esbarrar com um ali, nequele lugar, num show de forró, com Dayane no palco. Num local tão próprio, tão seu. Já a dança também foi singular, difícil de encaixar. Apesar dos dois marcarem o tempo certo com os passos, os movimentos não coordenavam, dançar com ele era igual tentar entender a língua torta que falava, atrapalhado e desafiante. Ela não sabia dizer se gostava ou não do gringo, mas com certeza ele chamava sua atenção e ficava observando como um bicho dentro de uma jaula no zoologico. No apagar das luzes ele pediu o contato para ela. Mesmo sabendo que no dia seguinte ela voltaria para Fortaleza e César, caso ela tivesse entendido direito, voltaria para sua terra a qualquer momento, num ato involuntário Teresa escreveu seu número telefônico, entregou na mão e olhou para dentro dos olhos dele mais uma vez e foi embora.
Algumas semanas depois, quando Teresa escutou a voz de César do outro lado da linha, avisando que acabara de chegar em Fortaleza, uma pontada fria abriu-se na sua barriga. O que você tá fazendo aqui? O eco da pergunta junto ao cenho franzido de Teresa num olhar totalmente ausente do encanto que tinha enfeitiçado o César, causou pavor no homem, ele mesmo se perguntou: ¿Qué hago aquí?
César não soube explicar, porque não tinha razão alguma para ter ido atrás dela. Só falou que tinha gostado muito e queria vê-la. Mas você não ia voltar para Colômbia? O semblante estranhado e incrédulo de Teresa só aumentava. Sí, mas eso era antes de conocer você. Na verdade, César ficou tão deslumbrado por Teresa, que não achou necessário ter uma explicação lógica e convincente para explicar sua viagem repentina para Fortaleza. Afinal, ele havia refletido no longo percurso do ônibus desde o Rio até a capital do Ceará, ela deve sentir o mesmo que eu sinto por ela. Imposible que yo esté equivocado, deduziu.
Você tá enganado, César! de onde você tirou isso? A gente só dançou umas músicas e trocou uma ideia, nada demais, explicou Teresa. É melhor você voltar para Colômbia. César nunca se envolvia em brigas, jamais tinha trocado socos com ninguém, aliás, das poucas vezes que esteve perto de algum enfrentamento, seu irmão mais velho, Hernán, o defendeu, no entanto, naquele momento ele teve a certeza de experimentar o maior murro que pessoa alguma poderia ter recebido; tonto, com olhar embaçado e vontade de vomitar, afrouxou o pescoço, enterrou a cabeça no peito e saiu a passos curtos dando as costas para Teresa sem falar nada. Teresa ficou olhando, ainda não compreendia o que acabara de acontecer, deu de ombros e voltou para sua casa.
O mundo de César ruia. Mierda ¡la cagué! y ahora qué hago. O dinheiro que tinha conseguido do irmão para “ficar um mês jogando no Olaria Futebol Clube do Rio de Janeiro” havia sido gasto na viagem e nas diárias de pensões e hotéis de Fortaleza. Ligar para o Hernán e pedir ajuda estava fora de cogitação, além de Teresa não conhecia mais ninguém ali.
Para Teresa, sem contar as piadas e tiradas de sarro das amigas, o reencontro com César foi um simples caso da vida perdido na memória acontecido há quase um mês. Ela estava finalizado o curso de estética e cabeleireira, ainda morava na casa dos pais e, apesar de continuar gostando de forró, já não sentia aquela sede de ficar ouvindo e dançando o tempo todo. Quer dizer, adorava sair, ir no show, mas não era aquela coisa que a tomava por completo que sentia uns anos atrás. Devia ser porque estava ficando mais velha. No campo do amor, tinha namorado uns dois ou três caras, foi legal mas nenhum tanto como para casar. Teve uma profunda paixão por Gilberto, o filho de Dom Manoel -dono do açougue do bairro-, ele estava prestes a se formar médico, porém nunca deu bola para ela.
Qualquer dia daqueles, tocou o telefone na casa de Teresa, o pai a chamou dizendo que era um rapaz querendo falar com ela. Daquela vez, o frio na barriga que tinha sentido na primeira ligação de César foi substituída por uma sensação de incômodo e encheção de saco na garganta. Já falei para você me deixar em paz, o que foi agora? César pediu para encontrar mais uma vez, precisava dizer uma coisa importante para ela. Pode falar por aqui, precisa encontrar não, respondeu ríspida. César já havia intuído que ia receber palavras parecidas de parte dela, insistiu, queria explicar sua situação, pedir ajuda, não conhecia mais ninguém nessa cidade. Esse último argumento conseguiu driblar a parede que Teresa tinha levantado apenas ouviu novamente a voz do gringo esquisito pelo telefone. Imaginou-se sozinha num país diferente, numa cidade estranha. Ficou em silêncio uns segundos. Me encontra na Praça dos Mártires amanhã às 15h.
Num banco com vista para o mar, César contou tudo para Teresa. A mentira dita ao irmão, sua situação crítica -Teresa se surpreendeu ao vê-lo notavelmente mais magro que da última vez- a paixão doida que sentia por ela. Com relação ao irmão, ela recomendou ligar e contar a verdade, também prometeu que ia falar com seu pai, que trabalhava no porto da cidade, para ver se poderia arranjar um emprego, com relação à paixão doida não disse uma palavra.
Por coincidência a empresa onde trabalhava o pai de Teresa estava à procura de um office boy, ele passou a indicação e contrataram o gringo, boa parte dessa decissão foi pela situação que César estava passando. Nesse período, César conversou com seu irmão umas duas vezes, sempre ficava com medo de confessar o que realmente acontecia, inventava que seguia fazendo testes no time de futebol do Rio, que nos períodos vagos fazia alguns bicos para ganhar uma grana e por isso não pedia mais dinheiro para Hernán. Também não adiantava pedir, Hernán lhe contou que o pai tinha morrido, o pouco dinheiro que recebiam da aposentadoria foi cortado, agora, com mais razão, César deveria dar um limite àquele sonho maluco e voltar logo para Bogotá para dar uma mão em casa. César ouvia, sentia um fogo queimando a barriga. Un poquito más hermano, creo que me dan a dar otra oportunidad en estos días.
César se agarrou à oportunidade oferecida pela empresa onde trabalhava o pai de Teresa e se dedicou totalmente, era a única coisa que tinha nesse momento. Não demoraram muito para enxergar no moleque potencial para exercer outras atividades. Acabou posicionado numa área próxima do pai de Teresa, e com o passar do tempo os dois foram ficando amigos. De vez em quando, o pai convidava César para ir no final de semana almoçar em casa. O pai de Teresa sabia que ele estava sozinho na cidade. Teresa ficava feliz de ter ajudado o gringo, porém, às vezes se questionava do porquê ele não voltar para sua terra se já estava ganhando dinheiro. Numa daquelas visitas, após o almoço, o pai de Teresa foi comprar cigarros, ela aproveitou para ir na sala onde César aguardava e perguntou para ele. Com o coração disparado e tremendo por dentro, César respondeu aparentando uma calma sacerdotal, quase em postura de gozação, que não voltava para Colômbia porque gostava dela e queria estar perto. Ah! para de ser besta, disse Teresa fazendo um gesto no ar com a mão em direção a ele e saiu da sala. No caminho para o quarto sorriu para si mesma. Os olhos que antes viam um gringo esquisito, agora começavam a descobrir um homem decidido e corajoso.
Teve um dia, após o farto almoço de sábado com César de convidado, que Teresa propôs irem comer sobremesa na praça, talvez um bolo mole ou um doce de caju. Era um final de tarde de começo de maio, o vento que o mar trazia amenizava o calor, Teresa, seus pais e César pegaram a sobremesa e foram sentar nos bancos da praça. Uma simples banda de forró tocava no meio do lugar para ganhar uns trocados. Sentaram juntos a mãe de Teresa e César, na frente, Teresa e seu pai ocupavam o outro banco. Teresa tinha conversado com suas amigas mais próximas, também havia consultado a mãe, César, de certa forma, ganhara terreno dentro de seus pensamentos, estava vendo a possibilidade de dar uma chance, demonstrou ser uma pessoa responsável e trabalhadora, e no fundo, o fato dele ter cometido a loucura de vir atrás dela e persistir, a fez considerá-lo.
César está distraído, olhando para o mar. Teresa acomoda a palma da mão direita em cima da bolsa de couro, alonga seus dedos deixando a falange mais próxima das suas unhas, pintadas de vermelho, um pouco convexa. No plano de fundo, a banda continua tocando um forró lento e melodioso que faz o ar fresco balançar um centenário baobá incrustado no meio da praça. A sombra da imponente árvore se derrama sobre o corpos sentados nos bancos, a mãe está quase dormindo e o pai ficou observando uma criança que brinca com um cachorro. Teresa começa a bater com os dedos os quatro tempos da música, encaixando certinho o barulho do couro do bolso junto ao toque da zabumba, seu ritmo é acompanhado de um olhar fixo na cabeça de César. Um olhar que prepara um laço imaginário descendo pelo rosto até o pescoço do gringo. As batidas rubras dos dedos vão ficando maiores, aos poucos abafam o som da banda, Teresa conhece a música que está tocando, daqui a pouco vai acabar, quando isso acontecer ela vai continuar marcando o ritmo e ao mesmo tempo vai fechar o nó do laço ao redor do pescoço de César. Cinco, seis, sete, oito e… a banda finaliza. O tempo faz uma pausa, mas a mão de Teresa continua a dançar, seus olhos dão uma puxada de leve no laço, o suficiente para tirar César do torpor e fazê-lo procurar o único som que agora tem na praça. Ele não demora em achar a fonte da música, os dedos compridos, vestidos de carmim, prendem sua atenção. Teresa alarga um curto sorriso, ele mordeu a isca. Sem pressa e mantendo a contagem dentro de sua cabeça, os dedos de Teresa se descolam do bolso e começam a ascender pelo antebraço. No mesmo ritmo, os olhos de César acompanham o desfile da mão; são eles, seus olhos, que comandam todas as ações. Não há pensamento, raciocínio, nem vontade. Ele é, neste momento, o que seus olhos veem. As batidas de Teresa chegam na junção do ombro com o peito, sem perder a cadência nem o ritmo, suas unhas sobem e descem pela turgência de seu seio na procura do pescoço. A boca de César se entreabre e se enche de sangue. Teresa tensa o laço para dar o último e fulminante puxão. Antes de chegar na boca, as unhas marcam os últimos quatro tempos da música que toca dentro de sua cabeça. O dedo indicador fica imóvel encostando no lábio inferior combinando em cor com as unhas. Ela dá a laçada final encarando os olhos de César. César, ao entrar na mira de Teresa, descobre a trapaça e se entrega de imediato, acata a derrota assumindo sua caçada como um mísero camundongo. Um segundo depois, consegue ler nos lábios vermelhos dela: vamos sair, hoje à noite.
Teresa e César estão juntos há 3 meses. O casamento foi adiantado. Ela não saberia dizer se queria ou não, nunca tinha pensado a respeito, o fato é que ficou grávida, e aquilo bagunçou tudo, acelerou as coisas. Ele também ficou sem chão ao saber. Ter um filho? ser pai? Nada disso atravessara sua mente. Pouco tempo atrás, seu único pensamento era arranjar um time para jogar bola antes de ter que voltar para Bogotá. Mas aquilo já pertencia a um passado longo e difuso. Só tinham duas certezas: queriam estar juntos, e, se fosse menina, colocariam o nome de Dayane.
César ligou para seu irmão.
¡Quihubo hermano! ¿dónde está? lo estamos buscando hace meses, ¿qué pasó con usted? -o tom de Hernán era grave e seco-
Hernán, que pena mi hermano, ahí vamos dándole
Dónde anda, mi mamá lo pregunta todo el tiempo, ¡ni siquiera le ha dado el pésame por lo de mi papá! Qué es lo que le pasa.
Hernán, tengo que contarle una cosa
Qué fue, diga a ver.
César finalmente fala o acontecido. Hernán entra num silêncio roxo e apaga seu irmão.
Teresa está num quarto no nono andar de um hospital em Fortaleza, entrou em trabalho de parto faz umas 4 horas. Sente que se desgarra por dentro. Do lado da cama tem uma janela grande, é um dia aberto e caloroso, alheio à dor dilacerante que ela está passando. De relance vê, através da cortina, a copa de uma árvore que foi podada no meio para deixar os cabos de energia elétrica passarem. Talvez foi a situação incomum que estava passando, quem sabe o efeito de algum dos remédios que tomou, mas a imagem lhe pareceu uma pessoa de cabeça para baixo com as pernas abertas e um monte de fios passando entre elas.